segunda-feira, 30 de março de 2009

O Homem Aranha no globo da morte.

Esta é uma história muito muito triste.
Da nossa célebre trapezista sem os dedos dos pés.

Nossa personagem de hoje é uma jovem de 26 anos.
Trabalha no circo e recentimente descubriu que tem diabetes.
Não demorou muito tiveram complicações e a pobrezinha teve que amputar os dedos dos pés.
Todos eles. Um por um.

Eu não fiquei comovida. Mas soltei um 'tão jovem' quando vieram me contar.
Fui ágil e precisa. Era a melhor resposta que eu poderia ter dado.
E refletir em silêncio, que pelo menos ainda tinha os braços.

Não sei bem porque essas histórias chegam até mim.

Bom, o circo está na cidade e tem cachorrinho palmeirense, tem cachorrinho são paulino, e tem cachorrinho corinthiano!
Mais o povo gosta é da trapezista sem os dedos dos pés.
É o que faz as pessoas irem até lá. É a estrela da noite.
Tem trapezista sem os dedos palmeirense, são paulina e corinthiana.

Queria ver é sem os braços. Isso sim seria rock 'n' roll, baby.
Trapezistas sem os braços palmeirenses.
Trapezistas sem os braços são paulinos.
Trapezistas sem os braços corinthianos.

Trapezista sem os braços no globo da morte.


O fato é que o circo não é só pipoca e alegria não, minha gente.
O circo é maltratos a animais, arquibancada desconfortável, uma corja de palhaços sem graças com as piadas vencidas. Um bando de palhaços punheteiros.
Pobres cachorrinhos pintados de verde e branco.
Cheiro de merda. Cheiro forte de merda.
Trapezistas sem os dedos dos pés, fazendo de sua deficiência atração.

Circo é um bando de idiotas que pagam pra ver essas atrocidades enquanto enchem o cu de pipoca, acompanhados de seus rebentos, rindo e comendo feito animais.

Circo é um carro de som te acordando domingo de manhã, anunciando com entusiasmo o Homem Aranha no globo da morte. E apesar do tom de voz estridente e estusiasta, definitivamente não é mais empolgante que as minhas preciosas horas de sono.

sábado, 28 de março de 2009

Um pequeno mimo.

Esta noite eu fui presenteada pelo Olímpio. Os Deuses me enviaram um pequeno mimo.
Um doce e misterioso vestal.
Calado, bonito, cada pequeno detalhe nele foi tecido minunciosamente para mim.

O sorriso preterido, os olhares desviados, de ansiedade, de insegurança.
A boca, a pele, os pêlos. O cheiro.
O cuidado desnecessário. O desejo, o medo, o intenso desejo.
A ânsia. A natureza, o instinto, os dentes.
A textura da língua, a respiração e a voz.
A vontade e a intensidade. A saliva. O suor.
Sangue, água e sal.

Doce e misterioso vestal.
Meu doce e misterioso vestal. Só meu.
E agora, do mundo.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Show de horrores.

Os fãs de Legião Urbana que me perdoem, mas a experiência mais desesperadora que passei

Era uma vez um bar. Eu tranquila, tomando minha cerveja, sozinha e folheando um livro com certa preguiça. Feliz, feliz.

Até que uma escuridão plena tomou conta do bar, do bairro e da cidade.
Não me importei. Fechei o livro, acendi o cigarro e continuei tomando minha cerveja.
Mas eu não estava só.

Na mesa ao lado um grupo de jovens universitários falando sobre boa música, bons filmes, teatro e é claro, pegação. Pegação. No mais, é tudo pretexto para pegação promíscua.

Mas quando a escuridão tomou conta do bar, do bairro e da cidade, estava por vir algo muito pior. É o que acontece quando a iluminação fica sombria.
E naquela noite fria e obscura, na cidade interiorana de Assis, a tese foi comprovada.
E era bem pior que eu imaginava.

Os jovens começaram a cantar.

Legião urbana, claro. Tempo perdido.
Tempo perdido, claro.

Eu começei a rezar pra que a escuridão cessasse logo que começaram. Mas eles ainda tinha muito tempo até que isso acontecesse. Tinham todo tempo do mundo.

Todos os dias antes de dormir,
Lembro e esqueço como foi o dia. [coro]

E eu não via a hora da luz voltar, pra pagar minha conta e ir embora dormir e esquecer. Cantassem mais um pouco e eu saía sem pagar. Correndo. Apavorada, que estava.
E os gritos de selvagem ecoavam, eu naquele puta escuro. E quando as vogais se estendiam era de dar calafrios.

E selvagem, selvagem.

Malditos bêbados. Não respeitam ninguém. Depois que são espancados nas ruas, não sabem porque.

Utraviolence já!

quarta-feira, 25 de março de 2009

Eu escrevi um samba pra você.

[Agitação de espírito]

Desde que iniciou-se o dia.
Desde que fui dormir. Desde que dormi mal.
Desde que mal dormi.
Desde que acordei. Prontamente acordei.

Ainda não dormi.
Hoje eu só acordei.
E essa ânsia batucando no meu peito.
E esse desejo, o que vou fazer com ele?
E esse grito calado, e esse desespero.
Nada vou fazer com eles, apenas esperar passar.

Queria o dom, queria o tom e o silêncio
Pra poder sentir o vento e ouvir ele passar.

Queria tempo, eu queria Babylon.
Queria Ela.
Queria contar pra ela.
Pra depois querer afeto
Tempo não ser mais defeito
E o que eu guardo no meu peito não precisar mais nem dizer.

Queria tanto, pra depois não querer nada.
Sabor, som, cheiro e textura
Água salgada, pele escura.

Queria tanto, pra depois não querer nada.
Água salgada, pele escura
Som, sabor, cheiro e textura.