Entrou na sala de espera e eu era a primeira coisa que podia se ver.
De pé do meu lado, mechia no cabelo esperando que eu tirasse a bolsa do assento do sofá.
Distraída que sou, nem notei.
Só depois, quando cansado de esperar foi pro outro canto da sala e dispertou minha atenção.
Ficou de pé, discretamente me observando, curioso.
Eu retribuia o olhar, um pouco tímida.
Me olhava como se eu fosse única.
Parecia mesmo que o amor não é carnal.
Levantava, andava, sondava. Sentou.
Até que tomado por absoluta determinação, falou.
- Doeu pra fazer este seu piercing?
- Não - Respondi, seca.
- E tem como ver por dentro? - Continuou.
- Você quer ver? - Já abrindo a boca e contorcendo a bochecha com os dedos, pra que ele pudesse ver.
- Ah - Disse, franzindo o rosto pra demostrar a aflição.
Ficou me fitando, fitando meu rosto, admirando.
-E como é seu nome?
- Ana Júlia. - Respondeu prontamente uma outra, atravessando.
Ele olhando fixamente para mim.
- Eu? O meu? - Gaguejei.
Ele continuou olhando.
-Aymê.
-Aymê?
-Aymê!
O silêncio prevaleceu por um tempo, os dois olhando pra baixo.
Até que ele levantou e retomou, encostado na porta, corpo metade fora da sala.
-E qual a sua idade? - Voltou e se sentou.
Hesitei. Respondi.
- 18.
- Ah - Suspirou em tom de desesperança.
E decidiu se calar.
Eu questionei.
- E a sua?
Ele após um longo tempo de reflexão, suspirou forte e disse.
-9.
E saiu da sala.
Aquele olhar me intimidou. Me encantou.
Aqueceu. Como nenhum outro.
Por um breve momento acreditei no amor.
sábado, 25 de abril de 2009
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