sábado, 25 de abril de 2009

Aquele olhar.

Entrou na sala de espera e eu era a primeira coisa que podia se ver.
De pé do meu lado, mechia no cabelo esperando que eu tirasse a bolsa do assento do sofá.
Distraída que sou, nem notei.
Só depois, quando cansado de esperar foi pro outro canto da sala e dispertou minha atenção.
Ficou de pé, discretamente me observando, curioso.
Eu retribuia o olhar, um pouco tímida.

Me olhava como se eu fosse única.
Parecia mesmo que o amor não é carnal.

Levantava, andava, sondava. Sentou.
Até que tomado por absoluta determinação, falou.

- Doeu pra fazer este seu piercing?
- Não - Respondi, seca.
- E tem como ver por dentro? - Continuou.
- Você quer ver? - Já abrindo a boca e contorcendo a bochecha com os dedos, pra que ele pudesse ver.
- Ah - Disse, franzindo o rosto pra demostrar a aflição.

Ficou me fitando, fitando meu rosto, admirando.

-E como é seu nome?
- Ana Júlia. - Respondeu prontamente uma outra, atravessando.

Ele olhando fixamente para mim.

- Eu? O meu? - Gaguejei.

Ele continuou olhando.

-Aymê.
-Aymê?
-Aymê!

O silêncio prevaleceu por um tempo, os dois olhando pra baixo.
Até que ele levantou e retomou, encostado na porta, corpo metade fora da sala.

-E qual a sua idade? - Voltou e se sentou.

Hesitei. Respondi.

- 18.
- Ah - Suspirou em tom de desesperança.

E decidiu se calar.
Eu questionei.

- E a sua?

Ele após um longo tempo de reflexão, suspirou forte e disse.

-9.

E saiu da sala.

Aquele olhar me intimidou. Me encantou.
Aqueceu. Como nenhum outro.

Por um breve momento acreditei no amor.